Os argumentos de que a previdência é deficitária, são
contestados por estudos e pesquisas consistentes, que estão disponíveis. Ela é
colocada como bode expiatório para aniquilar com direitos duramente alcançados
e consolidados. Só os grandes devedores da previdência fazem um rombo
incalculável, diga-se, são grandes empresas em quase sua totalidade em relação
ao volume de recursos, que tem as contas penduradas. Ao contrário dos (as)
trabalhadores (as), que pagam na boca do caixa dos salários. As renúncias
fiscais fazem um peso significativo nas contas da previdência. No entanto, os
grandes devedores da previdência são deixados de lado, um cálculo em simulação
recente, apontava a quantia espantosa de 479 bilhões, podendo ir muito além
disto. Para começar, vejamos qual é a composição dos recursos da Previdência. É
o percentual pago pelo empregados (as)/trabalhadores (as), dinheiro dos
empregadores, COFINS (Contribuição para Financiamento da Seguridade Social),
PIS (Programa de Integração nacional) e CSLL (Contribuição Social Sobre o Lucro
Líquido). Em vários países do mundo, o financiamento é tripartite (empresa-empregado-estado),
com 33% de cada instância. No Brasil, a contribuição do Estado gira nos últimos
tempos em torno de 12% (projeção a partir de 2012). Esta contribuição, que já é
pequena, falam que é o rombo nos cofres públicos. Fazem chantagem, ameaças de
colapso, se a reforma previdenciária não for feita. Na verdade, é possível
mostrar que a previdência é aritmeticamente superavitária, arrecada-se mais do
que tem que ser pago para aposentadorias. Dados da ANFIP (Associação Nacional
dos Auditores Fiscais da Receita Federal), trabalhando com a projeção de 2012,
apontam um superávit de 78,1 bilhões, quando o governo alegou déficit de 38
bilhões. Os rombos são criados assim pelo governo, com manobras contábeis,
culpando os trabalhadores. Soma-se aí, o dinheiro da DRU, desvinculação da
obrigatoriedade constitucional de recursos, como o da área da saúde e da
educação, que vão ççparar no orçamento geral. No cálculo efetuado pela ANFIP, o
governo retirou 2,7 bilhões da seguridade, o equivalente a 2,7 vezes o rombo apontado!
Outro dado, as desonerações fiscais de 2011 a 2016, atingiram o valor de 274,3
bilhões. É conhecido também, o esquema de corrupção que envolve as renúncias
fiscais. Estamos falando de um rombo real efetuado pelo Governo no caixa da
previdência deste período. Outro dado, 2/3 dos aposentados ganham somente um
salário mínimo. O que vemos nas mídias nesses tempos? Uma propaganda falseada
em defesa da reforma da previdência. As quebradeiras das previdências
municipais e estaduais, em sua maioria, seguem este mesmo rito. É lamentável,
desgastante, se ainda tem o que perder de imagem, assistir um deputado do PT de
MT apresentar-se na TV afirmando ser contra as reformas em curso. Ora, os
estudos e proposta núcleos da reforma foram organizados no governo Dilma,
conforme mostrou a professora Sara Granneman, especialista no tema. A partir de
um diagnóstico visando um regime próprio e geral da previdência, elaborou-se a
proposta, com participação de maioria das centrais sindicais, aderidas ao
governo anterior. Exceção, foram a CSP Conlutas e a Intersindical, que
mantiveram-se autônomos e fiéis aos interesses dos trabalhadores. A proposta do
Governo Dilma visou o regime próprio e geral, a mesma de Temer, inclusive, com
os mesmos gráficos. Antecedendo, primeiro foi a Emenda Constitucional, depois a
de Lula da Silva, em uma evolutiva. FHC dirigiu ao regime próprio da
previdência (INSS), Lula centrou no regime próprio dos trabalhadores (da
união/federais). Assim, até nível PEC 287, que Temer mandou para o Congresso em
06 de Dezembro, visa o regime próprio e geral. Ataca o Regime Geral, todos
regimes próprios, federais, estaduais e municipais. A intenção é a degola
final, para abrir caminhos ao mercado financeiro. A Profº Sara Granneman, diz
que, no entanto, essa proposta tem “pés de barro”, dizendo que é uma zona cinza
o que vem a frente. Certo é, que Congresso e Governo, desmoralizados e sem
legitimidade, podem enfrentar uma reação nunca vista em nosso país. A
conjuntura e muito propícia.
Waldir Bertúlio
quinta-feira, 2 de março de 2017
sexta-feira, 13 de janeiro de 2017
Conjuntura- Crise Internacional e o Capital - 2
Neste
janeiro, (23 a 28), Cuiabá será sede (2ª vez) do Congresso do ANDES- SN (
Assoc. Nac. de Docentes de Nível Superior). Participo desde sua fundação,
assinando em baixo maioria das teses da direção, que serão defendidas neste
encontro. A direcionalidade é dada a partir da análise de conjuntura.
No quadro internacional, o impacto da recessão
mundial na América Latina e no Brasil. A tragédia da imigração forçada,
especialmente pelas guerras expostas na crueldade de 364 milhões (ONU) de
pessoas seguindo maioria para a Europa. São crianças, mulheres, homens, em fuga
das guerras, ditaduras, epidemias, fome e miséria. Em condições desumanas, nas
perigosas travessias pelo Mediterrâneo, com a morte de 3.930 pessoas (OIM –
Organização Internacional para Migração). Maioria, africanos e árabes, buscando
paz e oportunidades, inexistentes em seus países de origem.
A recessão, o desemprego, a disputa pelas
vagas de trabalho estimulam a xenofobia.
Manifesta a sanha mercantilista do neoliberalismo, exacerbando a crise
capitalista mundial. Impactos sobre o Brasil, a partir da bolha imobiliária
americana de 2008 e suas moedas podres. A quebra da Grécia, alastrada pela
Europa. A partir dos anos 80 e 90, o capital concentrado aumenta, já sob os
impactos dos planos de ajustes, especialmente nos EUA e Inglaterra.
Também, o avanço do capitalismo no Leste
Europeu e China, em busca da ampliação do capital industrial e financeiro. Ai,
a ofensiva militar de Bush e sua “guerra ao terror” (Afeganistão – 2001; tentativa
na Venezuela – 2002; Iraque 2003). Desde 2007 foram derrubadas as taxas de
lucro nos EUA, expandindo seus efeitos para a Europa em 2008. Este período é
contado como pior do que a grande recessão e quebra de 1929.
Ação Bush é renegada no mundo inteiro, abre
portas para a ascensão do Presidente negro democrata, Obama. Recente passa a
presidência a Trump (com sua psicopatia disfarçada?). Na verdade, apesar da
expectativa da população negra e imigrante em Obama e sua política, pouca
mudança para os mais pobres, muito veto a população imigrante. Aponta-se
elementos como este na composição da derrota dos democratas em 2016. O que
ocorreu, é que os estados nacionais (crise 2007-2008) socorreram os banqueiros
e as grandes empresas com a maior transferências de fundos públicos para o
setor privado da história. Aprofunda a centralização e concentração de
capitais, impondo estratégia mundial com planos de ajuste.
Aqui no Brasil a pressão pelo Estado mínimo,
na perspectiva de aniquilação dos serviços públicos via privatização e
terceirização de atividades fim, subtraindo direitos sociais inscritos na
Constituição de 88. Direitos consolidados como na Legislação Trabalhista e
Previdenciária devem compor a receita de ajustes. Buscam maior subordinação dos
países da periferia a financeirização globalizada. Em seu bojo, o desmantelamento
do Estado e suas políticas públicas.
Nesta lógica, o Estado cede lugar a gestão
privada, subordinada a lógica de mercado, como ocorreu em Portugal, Espanha,
principalmente a Grécia. Este país, detonado, é o completo exemplo desta
escalada, apesar da vitória do partido SIRYZA na eleição grega. Tsipras,
vitorioso, negou-se a implementar o plano de enfrentamento concedido pelo voto
popular. O que aconteceu com a Grécia e seu povo está escancarado. Isto teria
permitido também uma retomada frágil no crescimento nos EUA e na Europa.
A economia chinesa, em franca desaceleração
(PIB em queda em 2016, para 2017). A China, tida como uma verdadeira “fabrica
do mundo” sob o benefício da super exploração da força de trabalho e das mãos
de ferro do Estado, tem impactos sobre a América Latina e Brasil. Mais,
possibilidade de maiores problemas em 2017. Paira a crise do boom das
commodites, refletindo desaceleração, e recessão nas economias dependentes como
do Brasil. A globalização, internacionalização da economia abutre tem resposta
até medieval em países como Brasil. É a cara neoliberal: abertura irrestrita
das economias, desnacionalização, privatizações. Para isto, prioridade na implementação
de ajustes fiscais.
A posse de Donald Trump (racista, xenófobo,
misógino, populista de ultra direita) substitui a gestão confiável do mercado
financeiro aos democratas. Para onde caminhará a economia e a política da maior
potência do mundo? Como desenrolará a relação dos EUA com a América Latina, e
com o Oriente? – mesmo assim, ainda é possível que tenha mais continuidade do
que rupturas. É certo que continuarão e crescerão as intervenções militares que
massacram o Oriente Médio. No entanto, na escalada das tendências conservadoras
e retrógradas, uma resistência multifacetada insurge na comunidade imigrante,
mulheres, juventude, trabalhadores. Frente a obsessão e a patologia do poder.
Trump é absolutamente imprevisível e instável. O tempo dirá. Certo é, que o
capitalismo está em crise. A utopia vive!
Waldir Bertulio
quarta-feira, 11 de janeiro de 2017
Conjuntura – A força ascendente do neoliberalismo 1
Tomo
aqui como referência o grande pensador Christian Laval (A nova visão do mundo,
Governar pela crise, A escola não é uma empresa) com seus estudos aprofundados
do que chamou a terceira onda do neoliberalismo, estimulado no bojo da crise
política e econômica. Denominou esta escalada que sofremos dolorosamente aqui
no Brasil como uma estratégia neoliberal de governar pela crise. Não sem antes dizer que tivemos uma crise de
legitimidade do Estado a nível global e aqui no Brasil, e é nela que o
neoliberalismo recrudesce. É uma “espécie” de um movimento social dos
detentores do poder financeiro e camadas das elites que dominam o mercado e as
concentrações de capitais. Na verdade, é uma roupa nova para o velho
liberalismo. Persegue o alcance de uma racionalidade global, apoio irrestrito
às empresas, ancoradas na concentração de renda.
Autores como David Harvey apontam que o
neoliberalismo a partir dos anos 80, concentra em estratégias de acumulação por
espoliação, sob o impulso de práticas econômicas ligadas visceralmente aos
interesses do mercado financeiro. Agora no Brasil, a escalada de privatização
de estatais, de moradias, dos recursos naturais. Neste caso, aqui em MT é
bastante expressiva a retomada das oligarquias. No quadro nacional, a degola da
legislação trabalhista, dos direitos previdenciários (escala global) no assédio
á privatização no setor público, políticas de austeridade fiscal e regimes
progressivos de tributação. Para isto, é preciso colocar em prática a violência
do estado neoliberal.
Conter as lutas dos movimentos sociais (lei
antiterror e proibição de greves pela justiça), aniquilar com a solidariedade
classista e sindical autônomas, que já vinham sendo conduzidas desde meados de
2000. O que significa? – a evolução feroz onde o poder público e suas
representações tratam dissimuladamente ou escancaradamente, de outra
universalização: a da espoliação social. Isto aumenta irreversivelmente as
desigualdades, a mercantilização dos sistemas nacionais como a saúde e educação
pública. Esta “racionalidade” domina a lógica empresarial, avançando para
mecanismos de gestão não só públicos como privados.
Aí está o eixo da sociedade neoliberal. Impõem
a concorrência, estimulando criar novos dispositivos sociais. Não só no eixo da
mercantilização, mas atingindo as esferas do domínio familiar, científico e
religioso. É o que vemos ostensivamente nas representações legislativas profundamente
conservadoras. Propostas esdruxulas e fundamentalistas como na LDB, Escola sem
Partido, e tantos outros. Açodamento de correntes neopentecostais na
intolerância, inclusive ascendendo ao poder decisório.
O que deseja o aparelho neoliberal na ordem do
dia? - a racionalidade que conduzem,
além de estimular medidas de concorrência e desempenho (para mudar condutas
individuais), que deságuam no estimulo a que os cidadãos virem empreendedores.
Isto, naturalmente desmobiliza as defesas dos direitos sociais e universais.
Por que? – precisam satanizar as lutas parciais do mundo do trabalho com as
lutas em defesa dos direitos sociais.
Vejam os resultados das pesquisas do
insuspeito CENEDIC- USP, sob a direção do eminente sociólogo Chico de Oliveira.
Seus estudos mostram a concepção despolitizadora das políticas públicas que
seguem modelo neoliberal, nas prescrições de austeridade em curso no país. O
estímulo ao empreendedorismo individual é uma falácia, chega até a submeter a subserviência
trabalhadoras(es) precários e desempregados (passam de 12 milhões – IBGE). O
eixo é afastá-los da perspectiva salarial e dos direitos trabalhistas, levando
junto aposentados.
Bem diferente das economias solidárias e
autônomas construídas historicamente e que ainda resistem e sobrevivem no que a
lógica mercantil quer destruir. Este recrudescimento ocorre no Brasil dentro da
pior recessão desde a Proclamação da República. Nesta avalanche, apesar de
moribundo, ressurge a renuncia de Temer, a eleição indireta que nem está regulamenta
mas que cairia como luvas nas garras do centrão e do conservadorismo
parlamentar.
Tem também impeachment e cassação da chapa
Dilma/Temer 2014. Aventam a saída por uma PEC de eleições diretas e até uma renúncia
coletiva para todos os mandatos. É bom lembrar que nas últimas eleições já
ficou clara a indignação dos eleitores nos votos branco, nulos e abstenções.
Seria uma renúncia de mais de 60% da população ao título eleitoral? Fora da
terra “arrasada” do neoliberalismo, existem outros caminhos para trilhar!
Waldir
Bertulio
Feliz Ano Velho?
A
pauta nacional da agenda não tão pública quanto propagandeiam, continua
intensificando o desprezo ao que o povo percebe e pensa. Indiferentes a
concretas e potenciais reações que podem se avolumar. O frágil então Presidente
tenta “assoviar e chupar cana” em cima de um braseiro,. após contarem como
certo jogar definitivamente no bolso e no sofrimento da população para ”pagar o
pato” da malversação pública. Está
propondo uma agenda para a economia fundeada do país, que precisa retomar o
crescimento. Em seus calcanhares, a flagrante impopularidade, a ameaça concreta
do TSE, (cassação da chapa Dilma/Temer por abuso de poder econômico e
político). Soma pesada, a avalanche de mal feitos investigados pela Lava Jato,
que ameaça irreversivelmente muitas lideranças políticas. Até agora só
expuseram 4 das 77 delações de alta mortalidade política dos executivos da
Odebrecht. Neste furacão, arrastando desde Temer, Aecio, Lula, à cúpula do
governo, PMDB, PT, PSDB, e outros partidos parceiros, podendo atingir mais de
200 parlamentares no Congresso. Lula da Silva acalenta a possibilidade de
candidatura ao Planalto em 2018, na “ cândida” expectativa que sejam barradas
as investigações da Lava Jato. Aqui de MT, somente 1 dos deputados federais não
votou contra as 10 medidas de combate à corrupção. No Congresso, as bancadas
dos maiores partidos votaram fechados pelas táticas da impunidade. Para fugirem das barras da justiça
consequente, bem expressas como do perdão ao Caixa 2. Querem continuar no poder
parlamentar e executivo às expensas das “ tetas” inesgotáveis do propinoduto
via cofres públicos/empresas. Os Estados e Municípios estão em via de
quebradeira e gravíssima crise fiscal. Em MT bem vindo o fato de ex Governador
e ex Presidente da AL dobrarem o ano atrás das grades, após fazerem com seus
grupos o que quiseram com o erário público. Não é à toa a disputa histórica
pela mesa diretora da AL/MT. Praticamente o segundo orçamento do Estado que
veio crescendo anomalamente como negociatas e o cala boca do Legislativo. Pena
que não houve ainda um processo rigoroso de investigação retrospectiva e
atualizada de desvios na AL. Assim estão praticamente todos os legislativos do
Estado. Aprovam benesses sem escrúpulos nestes tempos tão difíceis de arrocho.
Deveriam ter drasticamente reduzidos seus salários, verbas indenizatórias e de
gratificações. O que esperar dos “novos” parlamentares? Não acreditam que
gradativamente as moedas de negociatas podem tomar outro rumo com a
fiscalização dos legislativos. Uma aberração no Congresso, petardo pela
continuidade das falcatruas entre grandes empresas, governo e políticos. Esta
manobra pela impunidade que abre 2017, o Senado aprovou no apagar dos luzes e
quase na surdina. Alteraram a lei das licitações, proposta clara de
continuidade da corrupção, abrindo de vez a promiscuidade entre o público e o
privado. A Odebrecht já tinha entregue recentemente este caminho das minas de
roubalheira. A Câmara Brasileira da Industria de Construção – CBIC, declarou
que o Senado abriu de uma vez as janelas da corrupção, que nasce no esquema e
desvio das licitações. Tentam assegurar que as grandes empresas continuem
“nadando de braçadas” nas licitações. Elas patrocinam as leis que quiserem nos
legislativos. Para se ter uma ideia, eliminaram os sistemas de controle e
fiscalização, que já eram frágeis. Tornaram facultativos, dentre outros
absurdos, as audiências públicas, único instrumento que a sociedade civil ainda
dispunha antes dos lançamentos de editais. Para MT isto é muito grave, com o
quadro de terra arrasada que vem sendo conduzido pelos interesses da banda
abutre do agronegócio, hoje instalados até em órgãos como a SEMA e INDEA. A
legislação atual ainda prevê participação social para discutir impactos sociais,
ambientais e econômicos. O Congresso quer ampliar os propinodutos? Verifiquem
como votaram os Senadores de MT nesta pauta da contravenção. Infelizmente, com
esta Câmara Federal, a proposta será aprovada com celeridade. Como
enfrentar? Apesar de tudo, e preciso acreditar
que o ano novo para não ser o velho ano nas falcatruas, depende de todos nós!
Waldir
Bertulio
Envelhecer com Dignidade
Ana
Tereza está abrigada em uma instituição asilar privada, com confortos que
obviamente outras instituições não oferecem. Seu Acácio, que já se f oi,
esperava como a maioria do abrigados, a visita de familiares que raramente
compareciam. Importante dizer que tanto Ana Tereza, família de posses, como
Acácio, sem referência familiar, esperam com ansiedade o período de Natal e Ano
Novo, quando algum parente mais próximo aparece para visita-los. Parece que
estes tempos batem em consciências pesadas de abandono, que deve ficar cobrando
ao menos nas memórias, que estes entes queridos estão praticamente em banimento
solitário.. A porcentagem dos que dão assistência aos parentes abrigados é
pouco expressiva diante dos faltosos. A esperada visita aos idosos sob o
cuidado das instituições. infelizmente. esta é a realidade que encontramos.
Como também, por outro lado, vemos quantidade expressiva de pessoas solidárias
e afetuosas, que apesar de não terem nenhum nexo parental, visitam-nos não só
nesta época como durante todo ano. Assim, é relevante apontar a existência de
pessoas e grupos que se dedicam não só a contribuições materiais e financeiras,
sobretudo a presença amiga e solidária como ocorre com o Abrigo do Bom Jesus (
Cuiabá) e o Abrigo São Francisco de Paula (VG). Tem pessoas que vão fazer sua
festa de aniversário com os abrigados. Eles adoram. Dançam, cantam, fazem
aquela festa! Artistas como Edimilson Maciel e Simone Oliveira, doam sua arte e
compartilham com estes idosos. Algumas poucas empresas contribuem timidamente
financeiramente. Poderia ser mais, porém , isto não dá impacto na mídia. Na
medida em que dependem objetivamente da contribuição financeira do setor
público além da utilização da parca aposentadoria, que na verdade sustenta as
instituições asilares de utilidade pública, como no caso do conhecido Abrigo do
Bom Jesus e Abrigo São Francisco de Paula (Cba e VG), que tem prestado
relevantes contribuições aos idosos de menor renda e que teriam que estar sob
os cuidados do poder público e sua política de bem estar social e saúde. O
setor público é praticamente ausente, com contribuições financeiras pouco
expressivas e incertas. Recente começou um grupo de artistas, na condução da
cantora Flávia Pires, abrindo a possibilidade destas ações no Abrigo de Várzea
Grande. Estamos falando de fato da solidão e da dignidade necessária para estes
idosos. Via de regra, são portadores de doenças crônicas. Nas rodas que
frequentamos e acompanhamos, um imaginário de memórias incríveis, delicadas e
saudosas. Quando estão à vontade e mentalmente aptos, são verdadeiros
contadores de histórias, marcadas na memória e na saudade dos familiares e
amigos. Que nunca ou pouco aparecem. Na verdade, o que acontece e, qual o
destino da política nacional, estadual e municipal de idosos? Se já era capenga,
imaginem agora, com os cortes nas políticas sociais, que podem deletar
inclusive o próprio Estatuto do Idoso, onde o Estado tem o dever de efetivar e
garantir a implementação de uma rede de proteção para os idosos. Os aposentados
da 3ª Conferência Nacional de Idosos aponta melhoria de benefícios, e uma rede
de combate à violência, e maus tratos à população idosa. Também a criação de
delegacias específicas e percentual orçamentário de uso intersetorial. Tanto em
nível federal como em MT e seus municípios, nada de previsão orçamentária
específica. Propõem também a criação de fundo orçamentário no valor de 1% para
a política de idosos, além da garantia de 2% dos recursos das loterias. A
política de bem estar social continua desprovida de financiamento, longe do
objetivo de inclusão e promoção do conforto e independência possível do idoso.
Quais são as necessidades desta população? – Autonomia, acesso, mobilização,
serviços públicos, segurança, saúde preventiva e curativa. Sem isto o estatuto
que prevê proteção social é letra morta. Muito longe da autorrealização e
dignidade. Dados recentes do IBGE e IPEA mostram que os idosos sofrem violações
como negligencia (6%); abuso financeiro ( 40%); violência física (34%); além de
violência sexual, institucional e discriminação . não só pela condição de
idoso, sobretudo por problemas de racismo, machismo, doença mental. A velhice é
bastante feminilizada, daí refletindo desigualdades de gênero e preconceitos
diversos. Com a reforma da previdência, reforma trabalhista, para 2017 a
perspectiva é nefasta. A máxima é, aposentados e idosos que se virem sozinhos! O
Estado do Bem Estar Social é dispensável e bobagem. Para um feliz ano novo
vamos reagir contra as propostas de destruição da Seguridade Social, SUAS, SUS,
Cultura e Ambiente. Que tal visitar neste fim de ano um destes abrigos de
idosos?
Waldir
Bertulio, professor da UFMT, colaboração de Vera Capilé – Psicóloga/Gerontóloga
AUTOS DE NATAL E ANO NOVO
Que
tempos, que ano, que dezembro, que período tradicional de festas mais sombrio e
ameaçador para o povo brasileiro! Reli recentemente a obra do sociólogo polonês
Zigmunt Baumam, “Babel – Entre a incerteza e a esperança”. Foi o resultado de
um diálogo com o escritor e jornalista italiano Ézio Mauro.
A
ideia que sustenta esta obra, é a do tempo do “INTERREGNO”, significa o tempo
entre o que não é mais e o que não é ainda. Na verdade, fala sobre o embate que
vivemos aqui no Brasil dolorosamente, nesta crise da democracia, expressada
ostensivamente na crise da representação política.
Zigmunt
diz que este tipo de crise deriva da crise de territorialidade do Estado Nacional.
Seria então, uma discrepância entre o alcance global dos poderes que realmente
importam para nossa vida, e as políticas de Estado, que deveriam confrontá-las.
É que o Estado, que deveria proteger seus habitantes e defender seus
interesses, não pode mais cumprir seus deveres e promessas na concepção que é
conduzido. Porque? – simplesmente, não tem mais poderes necessários para isto.
A
tolerância e o respeito as diferenças e a democracia são dois lados da mesma
moeda, seus destinos seriam inseparáveis. São crises siamesas, a crise de um, é
simultaneamente a crise do outro. Democracia sem tolerância seria um “OXÍMORO”
(combinar palavras de sentido oposto, mas que reforçam a expressão”). Neste
sentido, a tolerância e o respeito às diferenças seria um pleonasmo.
Quando a raiva e a indignação que contaminam
grande parte do povo brasileiro nestes tempos tão difíceis, tornam-se
insuportáveis. Porque ficam difusos, desfocados e indefinidos na torrente de
problemas apresentados. Coisas como a naturalização da miséria e das
desigualdades, o racismo, a homofobia, a xenofobia, a intolerância religiosa, a
intolerância ideológica, expressam a fragilidade da nossa condição humana (?!)
e nosso próprio destino.
Somos
alfinetados cotidianamente (como a vergonha que a maior parte do povo tem do
Congresso Nacional e dos políticos), pela miséria e impotência do status quo. Bauman interpreta em seu
pressuposto de interregno, a reação e retomada de uma conduta para a construção
de um futuro possível, diferente do que vivemos agora. Sim, temos que rascunhar
os novos caminhos, aí definido o espaço entre o que não é mais, e aquilo que
não é ainda. Penso que poderia acrescentar a isto, aquilo que deveria, ou
poderia ser.
Este
é o grande desafio do nosso tempo. Este é literalmente o tempo do interregno,
somos vergonha e incerteza, mas confiantes que podemos construir um futuro
diferente.
Estes
autos de Natal e Ano Novo, são manchados pela “pós-verdade”. É o cenário onde a
mentira, a meia verdade, podem virar na essência, veracidade. Claro, para
aqueles que têm interesse de ouvir as verdades que lhes interessam. Sempre em
favor de si próprios. Infelizmente pensam que podem legitimar mentiras de
pernas longas!
Assim,
vivemos um dezembro fatídico, na crueldade da imposição de perdas para a
sociedade, jamais pensadas. Em uma esquizofrenia política, distância abissal
entre governantes, parlamentares e governados. Vivem em um mundo à parte.
Capazes de condenar os idosos de hoje e do futuro à indigência, a morrerem à
míngua, como toda a população trabalhadora. Seus partidos e mandatos (com raras
exceções) servem a interesses privados.
Não
duvido que a retomada da legalização do Lobby deixe de lado a tática insistente
de descriminalizar o caixa dois e tantas falcatruas, crimes e criminosos ameaçados
de condenação iminente. Pode ser outra tramoia na prática da Pós-Verdade. Tentarão
de todas as formas manter os mandatos subordinados a interesses privados.
Triste
Natal e Ano Novo, com a agenda que adentra 2017. Hanna Arendt argumenta que
tempos de crises (tão grandes quanto a que vivemos) são fecundos para criar
novos caminhos, construindo outras concepções e ações políticas. Tendo à frente
a esperança, ela é imorredoura. Assim, Feliz Natal!
Brasil: Futuro incerto?
Está marcado como um dia da vergonha nacional a votação das 10
medidas de combate a corrupção na Câmara Federal. Mesmo cenário nojento da
declaração de voto quando do Impeachment. Deprimente mendicância de
conhecimento ou desprezo do que vem a ser a dignidade. Dignidade para quem
erige a cultura do cinismo, da corrupção como instrumento parlamentar
Na verdade, com
a recente delação da Odebrecht atingindo desde Temmer e seus
"valetes" do mal, até Aécio Neves ondas de desespero explodindo.
Não se sabe até onde podem chegar agora, no esfacelamento do Poder Legislativo
e Executivo e do próprio judiciário. A PEC 55 passando como trator, junto
com a Reforma da Previdência como dilapidação da Seguridade Social, para
que o povo arque financeiramente com todas as consequências.
Acusações
fermentam na esteira da Lava Jato, que certamente levará massa de parlamentares
à condenação. As defesas são as mesmas dos fundamentalistas do governo
anterior, que são todos inocentes. O insuspeito juiz Sérgio Moro nesta sua
caminhada, acolhe somente os processos/ denúncias que a ele são
encaminhadas. Manipulações, tergiversações ridículas, para se livrarem das
pesadas penas que os ameaçam. É o mesmo "nhenhenhém" frente à
denúncias e provas potencialmente sólidas. Argumentam que nada é verdade, tudo
seria invenção e falsidade! Claro que não. Quem não deve deveria se expor ao
delineamento da verdade. Porque (T)temer? - Ou recorrer até a tribunais
internacionais, contando com o capital de uma mídia que enredou até gente
respeitável na luta internacional democrática consequente? Ledo engano de
muitos, que pode ser desmascarado literalmente pelas investigações em curso. O
lema mais independente pode continuar a ser: Fora, e prisão para todos os
corruptos!
O que aconteceu
na desfiguração das 10 medidas para combate à corrupção? Este enfrentamento já
estava tramado bem antes, tentariam proteger a bandidagem "perdoando"
o caixa 2. Foi uma verdadeira tática de maracutaia, tramada em movimentações
fechadas nos porões do Congresso e do Planalto. Não conseguindo anular os
crimes do caixa 2, garantiriam a introdução de verdadeiras
"chicanas", à revelia de quaisquer resquícios de moralidade
pública. Quanto mais hoje, fazem e farão tudo para aniquilar com as medidas de
combate à corrupção. Das 10 propostas, passaram só 2 e 2 parcialmente. A tática
foi de introduzir medidas conexas ao perdão do caixa 2.
Agora, com
objetivo mais ampliado: Exercer mais pressão para barrar a operação Lava Jato
(Lei do Abuso de Autoridade e outras) com o que chamam de "Jabutis".
Apesar de confrontarem com a justiça, ainda contam com cunhas de simpatizantes
dentro dos Tribunais Superiores. Mas, a estratégia geral em confronto com a
justiça coloca o réu multireincidente
Renan desobedecendo decisão judicial, apoiado por múltiplos atores, desde
o Executivo. Assim, é preciso criar um confronto, um racha. Defender
cinicamente a impunidade com a maioria do Congresso frágil e expostos a
execração pública.
Estão utilizando
instrumentos para aprovar "gambiarras" legislativas para legalizar
crimes e criminosos. Em verdadeiro jogo de quadrilha aprovaram excrescências
como fuga e retaliação às ações de Sérgio Moro e sua equipe. Esperam
que o Senado e o pusilânime e capenga então Presidente "sacramentem"
mais esta sórdida e velhaca manobra. Ignoram o povo e sua reação. Não
percebem que os caldeirões estão fervendo, prontos à explodir, em um ambiente
nunca visto de perdas retrospectivas, atuais e futuras no campo da cidadania e
direitos sociais. Jogo sujo e sem limites. Somos nós quem fazemos o
futuro?
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